Tati Machado e Micheli Machado: quando a amamentação se transforma em luto
- Thamiris Vieira
- há 6 dias
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O leite desce, mas o bebê não vem: a dor das mães que perdem seus filhos no final da gestação

Nesta semana, o Brasil se comoveu com as perdas gestacionais de duas figuras públicas: a atriz Micheli Machado e a jornalista Tati Machado. Ambas estavam na reta final de gestações consideradas saudáveis quando, de forma repentina, perceberam a ausência de movimentos fetais. Após exames, veio a notícia mais temida: os bebês haviam falecido ainda dentro do útero.
Além do impacto emocional, essas mulheres enfrentam uma etapa extremamente dolorosa e pouco falada: a apojadura. Mesmo sem o nascimento de um bebê vivo, o corpo entende que o parto aconteceu e dá início à produção de leite materno. As mamas incham, tornam-se sensíveis, o colostro é produzido e, em muitos casos, há vazamento espontâneo de leite. Um processo fisiológico que, diante do luto, se transforma em sofrimento.
“A apojadura é uma resposta hormonal ao desprendimento da placenta. O corpo não sabe que o bebê não vai mamar. Ele simplesmente age. E isso, para uma mulher em luto, pode ser devastador”, explica a Dra. Alessandra Paula, fisioterapeuta especialista em pós-parto e aleitamento humano.
A profissional destaca que é comum que essas mães se sintam ainda mais vulneráveis ao verem o próprio corpo esperando um bebê que não virá.“Imagine sentir o leite descer e saber que não haverá braços esperando, nem boquinha para sugar. A apojadura, nesse contexto, vira um lembrete físico do vazio”, diz ela.
A especialista também alerta para os cuidados que devem ser tomados: “É possível interromper a produção com medicamentos, mas essa decisão precisa ser compartilhada com a equipe de saúde. Em alguns casos, a mulher escolhe extrair o leite por uns dias como uma forma simbólica de se despedir. Não há certo ou errado, há acolhimento”, reforça.
Medidas como uso de sutiãs firmes, compressas frias e evitar estímulo nas mamas podem ajudar a aliviar o desconforto físico. Mas nada disso substitui o cuidado emocional: “Essa mãe precisa ser vista. O luto perinatal precisa ser falado. E o leite que desce, mesmo sem bebê, precisa ser respeitado como parte dessa dor”, finaliza a Dra. Alessandra.

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