Alzheimer: Anvisa aprova novo medicamento que promete retardar avanço da doença
- Thamiris Vieira
- há 3 dias
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O neurocirurgião Jamil Farhat Neto alerta que, em muitos casos, o benefício de retardar a progressão do Alzheimer supera os riscos, contudo a decisão é tomada em conjunto (médico, paciente e família) considerando cada caso específico

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o medicamento Kisunla (donanemabe), da farmacêutica Eli Lilly, para tratar o Alzheimer em estágio inicial, com a promessa de retardar a progressão da doença em 35%. O neurocirurgião Jamil Farhat Neto (CRM-SP 141.252 e RQE 74.302) vê uma importante esperança nesta notícia, mas com a cautela necessária que a ciência exige. De acordo com ele, o que torna o medicamento revolucionário é a mudança fundamental na abordagem do Alzheimer, visto que, até agora, os tratamentos apenas aliviavam os sintomas temporários, como, por exemplo, na administração de analgésicos para uma dor sem tratar a causa.
“O donanemabe é diferente. Ele ataca diretamente um dos mecanismos da doença — as placas de proteína beta-amiloide que se acumulam no cérebro. Essa progressão significa, na prática, mais tempo de lucidez, autonomia e qualidade de vida. É um avanço significativo, embora ainda não seja a cura que todos desejamos”, aponta.

Riscos do medicamento
Segundo o especialista, o efeito colateral mais preocupante observado nos estudos clínicos é conhecido como Aria (Anormalidades Relacionadas à Amiloide em Imagem). Em termos simples, Jamil explica que as reações adversas podem se manifestar com inchaço cerebral ou pequenas hemorragias. Ele comenta que um quarto dos pacientes desenvolveu algum grau dessa condição durante as pesquisas
— na maioria dos casos foi detectada apenas em exames de imagem, sem sintomas perceptíveis.
No entanto, quando sintomáticos, os indivíduos podem apresentar dores de cabeça, confusão mental, tontura ou alterações visuais. “Implementamos um protocolo rigoroso de acompanhamento. Realizamos ressonâncias magnéticas antes e durante o tratamento. Também monitoramos cuidadosamente grupos de maior risco, como pacientes com o gene APOE4 ou aqueles que usam anticoagulantes”, esclarece.
Ação do medicamento
Conforme o especialista, o Kisunla é um anticorpo monoclonal, uma proteína de defesa criada em laboratório, projetada para reconhecer especificamente essas placas tóxicas (beta-amiloide). Quando administrado por infusão intravenosa, o medicamento circula pelo cérebro, “marca” estas placas e sinaliza ao sistema imunológico do próprio paciente que elas devem ser removidas. Proporciona-se a melhora da comunicação entre os neurônios, e o declínio cognitivo desacelera.
O médico destaca que após um período de tratamento (entre 6 e 12 meses) muitos pacientes conseguem reduzir significativamente essas placas. Ele conta que algumas pessoas podem até interromper o tratamento quando atingem níveis suficientemente baixos. Porém, o neurocirurgião enfatiza a importância do diagnóstico e tratamento precoces, cujo medicamento funciona melhor quando ainda há função cerebral preservada e antes que ocorram danos extensos e irreversíveis. “Tenho incentivado os familiares a buscarem avaliação médica aos primeiros sinais de comprometimento cognitivo, como esquecimentos persistentes que interferem na vida diária. Quanto mais cedo intervimos, melhores serão os resultados”, finaliza.

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