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Crítica do final da novela Vale Tudo 2025

O tiro de Odete e o tombo de Manuela


por Luciana Moisakis

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Antes de mais nada, uma salva de palmas — e de pé — para Débora Bloch, essa mulher que carregou a novela nas costas com uma atuação im-pe-ca-vel.

Odete Roitman renasceu nela, mas o resto do elenco parecia ter saído de um curso livre de interpretação da Praça Saens Peña. O contraste foi gritante. Débora era cinema. O resto, sessão da tarde.


Bella Campos, nossa Maria de Fátima, ficou perdida entre o tom e o talento. Verde demais para um papel desse peso, acabou com um final morno, água de salsicha, que desidratou de vez a vilania que deveria incendiar o último capítulo. A Fátima original entregou um clímax histórico; essa, mal entregou o texto.


César, o vilão de ocasião, virou caricatura de si mesmo — teve momentos em que parecia um episódio dos Trapalhões.

E Heleninha, Nutella demais para o drama que carregava. Era pra ser uma alcoólatra em frangalhos, mas parecia uma influenciadora triste de taça na mão. Faltou víscera, faltou entrega, faltou tudo.


Leonardo, o silencioso da trama, entrou mudo e saiu calado. A não ser pelo playback da cena do acidente, o moço foi um figurante de luxo. Será que ganha menos por não falar? Pelo menos a expressão corporal estava no ponto — um consolo.


E Raquel, nossa heroína apagada, foi quase banida do roteiro depois de questionar o rumo da própria personagem.

Na versão original branca, com Regina Duarte, Raquel caiu uma vez e se levantou com dignidade.

Nesta, transformaram a personagem numa maratona de superação. Porque, claro, preto é forte, preto é foda, vamos mostrar resiliência.

Ah, pára.


Tia Celina, fiel ao seu destino, ficou no caritó, ao lado do seu eterno escudeiro Eugênio — porque Sebastian simplesmente evaporou, pelo menos aparentemente.

E o pobre Eugênio, que abriu mão da aposentadoria e de ser feliz para continuar lacaio da mansão solitária, onde ninguém lembrava nem de onde ele vinha.

Era hora dos humilhados serem exaltados. Eu, inclusive, apostei nele como o assassino. Mas sigamos.


O final, que deveria ser o grande desfecho, foi um desfile de constrangimentos com gosto de merchandising.

Casais de tornozeleira eletrônica felizes da vida — vergonha.

Casamentos em série, apressados, empurrados com trilha de comercial de margarina.

O casamento das meninas, que merecia destaque pela pauta, virou pano de fundo.

Heleninha, mesmo em liberdade, saiu marcada como “a que matou a mãe” — porque a autora simplesmente ignorou a inocência da personagem.


E aí abre o zoom pro casamento de Raquel.

A make da Thaís Araújo foi um caso à parte — cara laranja à la Tramp, um desastre estético digno de estudo. Parecia uma make aborígene.

Se há algo a se investigar nessa novela, é quem aprovou aquela base.


A sequência do crime foi o jogo dos sete milhões de erros.

Dizem que a autora escreveu dez finais — eu gostaria de ver os outros nove, pra descobrir se algum sobreviveu à lucidez.

O que foi ao ar parecia um surto coletivo com orçamento.


Odete e Marco Aurélio confabulando como matar um ao outro, e de repente, um loop de segundos pra informar logo esse povo que Marco Aurélio é quem atirou — mas, claro, ele não contava com o robe de seda à prova de balas confeccionado pela NASA.

Tudo orquestrado pela própria Odete, que armou o plano com a cumplicidade do Freitas, aquele mesmo que passou a novela sendo humilhado pelo patrão e ainda chorou quando o algoz quase morreu.


E a segurança do Copacabana Palace? Que merda, hein.

Nunca mais vou pra lá. rs

Vou de Airbnb — mais seguro.


E então, o desfecho da vergonha: Odete viva.

Sim, viva.

E com isso, a novela morreu.


A autora esqueceu que estava mexendo num patrimônio da dramaturgia brasileira, cujo auge — o símbolo máximo — era a morte da vilã.

Remake não é fanfic. Dá pra atualizar, ousar, até reinventar. Mas não dá pra reescrever o ápice que tornou a história o que ela é.


Tudo isso, dizem, pra agradar o público.

Pois é. Nem sempre ouvir a voz do povo dá certo.

Às vezes, o povo está apenas nostálgico — e você acaba escrevendo o epitáfio da própria obra.


Porque remake é campo minado:

se não faz merda na entrada, faz merda na saída.

E aqui, minha cara Manuela, vocês conseguiram as duas coisas.

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Ana Maria
Ana Maria
18 de out.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Um texto desse vale tudo!!!

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