Há tempos venho observando que a maioria das ações sociais promovidas por ONGs ou ações públicas nas áreas mais carentes do país são, em grande maioria, atreladas a atividades artísticas ou esportivas. Todos sabemos que a atividade lúdica fortalece o senso crítico e desenvolve habilidades sensoriais, assim como o esporte nos ensina sobre saúde e disciplina. No entanto me questiono sempre se os gestores destas ações sociais não visualizam que nem toda criança pobre vai conseguir de fato crescer na vida com dança ou futebol.
Veio-me até um raciocínio que pode revelar algo de muito sombrio, será que os ativistas sociais acham que o "lugar" do pobre é permanecer na pobreza, ou sair dela apenas pelo "circo". Vou além, será que grande parte deste ativismo de danças do passinho não são grandes filiais de isenções fiscais? Por fim, para dar introdução ao meu objetivo neste texto, faço a pergunta que fiz para um amigo: Por que não levam o método KUMON para a favela, por que não levam mais bibliotecas públicas? Por que não ensinam ofícios importantes e práticos na área técnica? Mais escolinhas de dança e futebol sempre estão ao alcance. Não só nas áreas carentes, mas como de maneira geral, a mídia e até o meio intelectual criou uma geração que acredita que trabalho tem que estar relacionado ao prazer, como se quem não tem o que prover pudesse sempre escolher o futuro mais doce e feliz sempre.
Já que citei, vale a pena lembrar que o KUMON, método de ensino de matemática famoso, teve origem no amor de uma pai pelo seu filho, como cita o histórico da página digital referente ao assunto: "Toru Kumon acreditava que o trabalho de um educador era promover a atitude da auto-instrução nas crianças. Então, ele passou por uma série de tentativas e erros ao criar materiais de estudo para que o filho Takeshi fosse capaz de estudar confortavelmente a cada dia e desenvolver continuamente suas habilidades."
Etimologicamente, o vocábulo "trabalho" não é nada nobre, vem do latim tripalium, termo formado pela junção dos elementos tri, que significa “três”, e palum, que quer dizer “madeira”. Tripalium era o nome de um instrumento de tortura constituído de três estacas de madeira bastante afiadas e que era comum em tempos remotos na região europeia.
Claro que devemos procurar a melhor maneira de conciliar expectativas e necessidades na busca de um emprego, mas gerar a expectativa em crianças e jovens que toda atividade laboral deve ser sempre cheia de felicidades e realizações é, no mínimo, um crime emocional contra uma geração inteira, que chega ao mercado de trabalho querendo ser astro na TV ou nos esportes, quando na verdade, uma minoria estatisticamente poderá alcançar esse sonho.
Os países que alcançaram a busca por direitos civis e trabalhistas no passado, não jogaram na conta das artes e do esporte o caminho para o sucesso de suas crianças mais humildes. Planejamento educacional técnico e muito formalismo na formação básica geram grandes frutos, seja no ocidente judaico-cristão ou no oriente. Países que hoje desfrutam de grande potencial investiram pesado na educação básica rigorosa como a Coréia do Sul no pós guerra, entre outros exemplos.
Enquanto as preocupações em promover a inclusão ficarem só no discurso do construtivismo, da sala em rodinha, do fim do pedestal do professor, e da tal "pedagogia do oprimido" perdemos tempo e vontade de ensinar o que realmente irá promover a ascensão social de uma criança pobre, o estudo forte e consistente para desafiar a grande concorrência que os surpreenderá na busca por um trabalho digno e que dê sustento eficiente para sua família.
Quando o sociocobstrutivismo idealizou uma educação libertadora, tenho em mente que queria aumentar o poder de debate e gerar jovens libertos de amarras, não promover uma desestabilização nas necessidades básicas da gramática e da ciência exata.
Os ícones da pedagogia, como Anísio Teixeira, ficariam decepcionados se vivos estivessem, vendo desconstruir o útil e não construir o "plus" necessário. Transformaram as escolas em circos ideológicos e de contracultura. Não adianta ensinar senso crítico pelo cinema comunitário sem que o espectador saiba fazer tabuada e escrever uma boa redação.
É isso. Ao tratar do futuro de nossas crianças pobres temos que ser mais pragmáticos e realistas, e menos lúdicos e insensatos. O vestibular e o concurso público, assim com a entrevista de trabalho, não pedirão para eles dançarem ou baterem uma bolinha.
Pelas nossas crianças sempre!
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