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ChatGPT: mais um capítulo do avanço tecnológico que não para de acontecer

Por Anderson Paulucci


Nada se cria, afinal estamos em uma curva contínua de evolução desde o início do universo. O que muda, na verdade, é a velocidade da transformação, que a partir dos anos 2000 passou a ser exponencial. Neste momento, entramos no maior dilema da história da humanidade, potencializando a capacidade cognitiva humana nesta curva crescente através da Inteligência Artificial.


Divulgação

Anderson Paulucci, CDO e cofundador da triggo.ai


Yuval Harari descreve nossa jornada de evolução em seu livro “Sapiens - Uma Breve História da Humanidade”: nos últimos 500 anos, com o avanço da ciência, passamos a aceitar que temos muitas incertezas e ignorância, e a capacidade de expandir nosso conhecimento é praticamente infinita. Na Era Medieval, por exemplo, as pessoas eram muito guiadas por crenças e mitos. Hoje, a humanidade depende mais da ciência e da capacidade de questionar.

Essa revolução científica é essencial para impulsionar a criação da tecnologia, que é uma forma de aplicar a ciência na construção de ferramentas que melhoram a vida das pessoas, e é inegável o sucesso da humanidade com as conquistas das evoluções tecnológicas. A vida de uma criança que nasce hoje, por exemplo, pode chegar a 100 anos ou mais.


A base da ciência é o pensamento. Nós, Sapiens, somos os únicos seres com a capacidade de desenvolver e expandir conhecimento. Também acrescentamos o método empírico nesse processo, que nos permite observar os eventos e a história para produzir conhecimento e evoluir, reduzindo as incertezas.


O século 21 está sendo direcionado pela digitalização, estamos transformando tudo em dados. Interações sociais, consumo, trabalho, aplicativos para otimizar nossa relação com o trânsito, com a cidade, com as refeições, veículos autônomos, agricultura movida por sensores, indústrias conectadas e inteligentes movidas por dados. Enfim, estamos produzindo observações empíricas sem precedentes, que são a principal matéria prima para a ciência. Portanto, é natural falarmos sobre ciência de dados neste momento, uma vez que ela nos fornece a base para introduzirmos a Inteligência Artificial. Estamos diante do processo científico mais audacioso da história, com a pretensão de reproduzir a capacidade cognitiva humana. Imagine construir redes neurais mais complexas, rápidas e potentes?

A Inteligência Artificial já existe há, pelo menos, 50 anos. Não se trata de uma ciência recente, mas suas técnicas de aprendizado evoluíram muito na última década com a chegada de grandes impulsionadores como a internet, dispositivos móveis, a nuvem com mais interações e dados, além da própria evolução da computação para atingir seu maior hype: até o momento, em 2023, o ChatGPT, uma tecnologia, ou seja, um produto de um processo científico aplicado, abriu um portal democrático em poucos dias para centenas de milhões de novos usuários, libertando esta que promete ser a maior transformação de toda a história, afinal, exponencializar a cognição humana pode elevar o fator velocidade a um ritmo assustador de mudanças.


Uma empresa chamada Open AI, cujo um dos fundadores é Elon Musk, com grande patrocínio da Microsoft, desenvolveu o ChatGPT, ainda em versão inicial, porém já mostrou, de forma brilhante, o que vem por aí. Através da ferramenta, um usuário comum pode produzir e criar textos, imagens, músicas, roteiros, códigos ou vídeos completos. Existem vários outros projetos e aplicações de grandes empresas de tecnologia criando inovações com bases científicas semelhantes às utilizadas no ChatGPT, conhecida como LLM (Large Language Model), mudando muito a forma como os modelos atuais de IA avançados, como o Google, funcionam.


Bill Gates mencionou que o impacto deste marco histórico da ciência e tecnologia pode ser maior do que a internet representou recentemente. A curva exponencial de evolução da IA atual é incrível e capaz de dobrar a cada 4 meses. Para quem ainda não assistiu o documentário chamado AlphaGo, recomendo ver para compreender como um sistema de Inteligência Artificial da DeepMind conseguiu aprender a jogar um dos games mais complexos do mundo, um jogo de tabuleiro asiático chamado “GO”. Para usarmos como parâmetro de complexidade, o número de jogadas possíveis é maior que o número de átomos no universo observável. O AlphaGo aprendeu a jogar “GO” em alto nível em poucas horas, treinando com ele mesmo a partir das regras do jogo. O documentário descreve como foi possível, no ano de 2016, um sistema de IA, baseado em aprendizado por reforço ou recompensas, derrotar o melhor jogador de “GO” do mundo e a importância deste marco simbólico para a nossa história. A projeção é que antecipamos algo que estava previsto apenas para 2025 na computação.


A IA é real e agora, mais do que nunca, é acessível para interação com pessoas comuns, que até então se relacionavam apenas de forma indireta com essa tecnologia, que já vinha sendo aplicada em sistemas de recomendação do varejo, algoritmos de buscas na internet, análises de créditos nos bancos ou reconhecimento facial para segurança.


Como as empresas estão reagindo a essas oportunidades?

Em primeiro lugar, acredito que os empregos não serão reduzidos, mas alterados. Muitas profissões serão impactadas e outras novas funções surgirão, foi assim em toda a história recente de evolução. Portanto, acredito que não devemos enxergar isso como a maior ameaça, e sim nos conscientizarmos de que é preciso se adaptar rapidamente a ela usando a IA como ferramenta para gerar mais valor.

As funções burocráticas que produzem trabalhos repetitivos, com baixa necessidade de cognição humana, serão rapidamente substituídas e este processo já está acontecendo.

Quando falamos sobre ChatGPT, podemos associar a atividades como as de um estagiário de Direito, que precisa criar contratos ou petições. Esse trabalho administrativo deve ser reduzido, o que não significa que o advogado é desnecessário. Contudo, grande parte das atividades podem ser alteradas e otimizadas, aumentando, inclusive, a precisão no trabalho. Em times de marketing, por exemplo, praticamente todas as etapas de desenvolvimento do trabalho já dependem de dados e métricas, portanto, temos um terreno fértil para IA. Com o ChatGPT podemos criar textos, imagens e vídeos, de forma cada vez mais rápida, sofisticada e com profundidade incrível. Já os times de tecnologia podem utilizar a IA baseada em ChatGPT para desenvolver e analisar códigos, o que deverá acelerar e empoderar uma das profissões mais escassas do século 21: o programador. E não para por aí, passando pelo RH com processos de recrutamento e seleção, treinamento de equipes e muito mais.

A corrida já começou. No final do século 20, as empresas que não utilizavam sistemas ERP ou CRM para controlar seus negócios, por exemplo, já estavam atrasadas. Dada a velocidade de mudanças no século 21, nos próximos 3 a 5 anos, as empresas que não usarem IA como ferramenta de trabalho ficarão obsoletas rapidamente, com muita dificuldade de reagir às incertezas do mercado.


O ChatGPT é apenas uma parte neste processo. Ele representa uma interface de ferramenta que carrega em sua construção uma enorme evolução da ciência com a Inteligência Artificial, aplicada para resolver problemas e melhorar a vida das pessoas. Todo este processo andando em velocidade exponencial, representará uma mudança inimaginável em tudo que acontecerá até 2030.


Precisamos estar preparados para expandir perguntas com o objetivo de dominar a IA a nosso favor. É necessário entendermos que não se trata de uma batalha, e sim de um processo de evolução. A ideia de que máquinas poderão superar o Homo Sapiens ainda é uma ficção muito distante. Acredito que isso dependerá do quanto exploramos a possibilidade de expansão infinita da nossa capacidade de criar, evoluir e humanizar o mundo, conquistando conhecimento e mediando conflitos, afinal, estamos aqui para isso, com a capacidade que Deus nos deu e sabedoria que expandimos através da ciência.

Anderson Paulucci é CDO e cofundador da triggo.ai

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