Bienal de Arte Digital, ocupará o espaço Oi Futuro,
no Rio de Janeiro, de 12 de novembro a 22 de janeiro.
Entre as mais de 60 obras, destaca-se "Gil Futurível",
sobre Gilberto Gil, trazendo o músico em Realidade Virtual.
A humanidade vem refletindo sobre modos de vida e formas de continuar existindo, projetando futuros a partir da ancestralidade, criando possibilidades de resistência e adaptação. Com isso em mente e sob o tema “Condições de Existência”, a Bienal de Arte Digital retorna a partir de 12 de novembro - após um hiato de 4 anos devido à pandemia da Covid-19 - com obras de mais de 60 artistas nacionais e estrangeiros no Oi Futuro, no Flamengo. O patrocínio é da Oi, com incentivo da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e do Governo do Estado do Rio de Janeiro e apoio cultural da Aliança Francesa no Rio de Janeiro. A co realização é do Oi Futuro.
A entrada é gratuita.
De 12 de novembro a 22 de janeiro de 2023, o Oi Futuro recebe instalações, obras de arte visuais digitais, narrativas em audiovisual e uma diversidade de trabalhos de diferentes linguagens que analisam, tecem críticas e lançam novas perspectivas relacionadas ao tema desta edição. Até o final do evento, outras atividades como simpósios, performances, oficinas e exibição de filmes integram a programação.
Na primeira edição da Bienal - que somou um público de mais de 70 mil pessoas em Belo Horizonte e Rio de Janeiro – e sob o tema “Linguagens Híbridas”, os trabalhos refletiram a experimentação de linguagens artísticas com o uso de ferramentas e tecnologias. Reapropriadas, as pesquisas científicas se transformam em linguagens artísticas, através do uso da interatividade, virtualidade, sistemas híbridos e imersão. Agora, já inseridos em um mundo completamente digital, a Bienal traz obras que mostram como os seres humanos convivem com a tecnologia. Como coexistir, 'viver, 'ser ' na dimensão de um mundo biotecnológico e pós-digital?
As obras dos mais de 60 artistas ocuparão os quatro andares do centro cultural, um número bem maior do que da edição passada, incluídos também os 16 bolsistas do Comunidade UX, projeto da Bienal realizado em janeiro último que reuniu talentos das periferias. Entre consagrados e iniciantes estão artistas do Brasil, Alemanha, França, Espanha e Chile.
PERFORMANCES E OFICINA
Estreando a programação de performances, no dia 12, às 18h30n, a artista Karla Brunet exibe Deriva Tortuosa. Nesta apresentação de 15 minutos, três camadas de materiais se entrelaçam para construir uma narrativa visual e sonora, em tempo real. Uma mistura de mais de 80 clipes de vídeos, sons e animações de visualização de dados para criar uma narrativa audiovisual subjetiva de sentir o Mar Mediterrâneo. Imagens e sons em movimento gravados em locais do Mediterrâneo como Ceuta, Gibraltar, Malta, Sicília e Chipre. Não é uma deriva de forma fluida, ela é complexa, sinuosa e emaranhada como os sentimentos e as histórias vividas no mar.
No dia 13, os artistas franceses Franck Vigroux e Kurt d'Haeseleer apresentam A Ilha, um misto entre concerto audiovisual e experiência telúrica de imagens e sons. Inspirada em várias histórias sobre ilhas lacustres ou vales remotos condenados a submergir para a construção de barragens hidroelétricas, a performance traz uma incisiva composição musical e imagens de vídeo que se desdobram em um universo fantasmagórico. A Ilha questiona a transformação de um mundo para outro, afetado pelo chamado “progresso”. Serão duas performances no mesmo dia: às 17h e às 19h.
Franck Vigroux também irá ministrar a primeira oficina da edição, a Oficina de criação musical digital, dia 15, das 14h às 18h. Os participantes, a partir de 12 anos, serão convidados a usar e tocar instrumentos digitais (gratuitos para download), em um aprendizado prático e divertido. Os interessados devem se inscrever pelo site da Bienal na aba “Participe”
ALGUNS NOMES DA EDIÇÃO
O espanhol Solimán López volta à Bienal com a instalação batizada de OLEA. O projeto propõe um espaço para reflexão e reaproximação de espécies, conceitos, economias, sociedades - tudo isso se converge no azeite de oliva. Em consonância com a ascensão das criptomoedas, OLEA tem por objetivo se tornar a primeira criptomoeda para o comércio de azeite, além de ampliar os conceitos de arte contemporânea para novas mídias e tecnologias. O projeto representa uma inovação histórica na arte contemporânea e na agricultura, conectando biologicamente duas das mais importantes economias históricas, cripto e agricultura.
A obra Dream’s Cricket, do artista sonoro e engenheiro de som francês Felix Blume, consiste em uma instalação sonora composta por 40 “grilos-falantes” que tocam as gravações do canto do macho à noite, feitas por crianças durante uma oficina. Nela, também há a exibição de um curta-metragem realizado utilizando os dispositivos dentro de uma história: em resposta à inevitável extinção de insetos, um grupo de cientistas desenvolveu uma espécie de grilos eletrônicos para que, mesmo depois que eles se forem, os grilos possam continuar cantando enquanto sonhamos. O trabalho ajuda a refletir sobre as consequências da mudança climática e da extinção de espécies.
Delírios Digitais, dos artistas Séfora Rios, Yves Marotta, Paulo Stoker, Juliana Fasuolo, traz uma instalação phygital (física e digital) que funciona como uma “chave de portal” para o metaverso. Assim que que aberto, “o portal” leva a um espaço imersivo que reúne sensações físicas aliadas ao contexto digital – onde uma nova realidade utópica se apresenta. Nele, há cores e traços de uma brasilidade digital através da obra de 15 artistas que, em comum, além de uma narrativa não-hegemônica, têm pautas como igualdade, liberdade e ode à natureza.
Gil Futurível, do brasileiro Clélio de Paula, traz a experiência em realidade virtual do “segundo estágio de humanoide” de Gilberto Gil, modelo digital do artista criado a partir do seu escaneamento 3D. Com os óculos, o público terá a experiência de estar frente a frente com Gilberto Gil, assim como os figurinos icônicos do artista. O projeto pretende expandir as possibilidades de expressão e consumo das criações e ideias de Gilberto Gil por meio de obras audiovisuais tridimensionais, tendo como base os materiais gerados pelo seu escaneamento. A inspiração para o projeto foi a música Futurível, escrita enquanto Gil estava preso pela ditadura militar, em 1969. Na canção, o artista explora ideias de transmutação do corpo físico e o impacto de tecnologias muito distantes daquele tempo, botadas em prática simbolicamente na presente obra.
A mostra MuMia recebe seis curtas-metragens de animação: A Double Life, de Job, Jors e Marieke, é uma deliciosa comédia dark sobre marido e mulher cujas ideias diferentes de conformidade de gênero levam a um confronto inesperado. Riot, de, Frank Ternier, fala de um jovem negro que é morto em uma briga com um vizinho vigilante e a polícia. Sans Gravité, de Charline Parisot, Jérémy Cissé, Fioretta Caterina Cosmidis, Flore Allier-Estrada, Maud Lemaître-Blanchart e Ludovic Abraham traz a história de um astronauta que volta à Terra e tenta se ajustar a ela novamente. The Kite, de Martin Smatana, trata da questão da morte, mas o faz de forma simples, metafórica e simbólica na relação entre o menino e seu avô. Sangro, de Tiago Minamisawa, Bruno H Castro e Guto BR, é a confissão íntima de uma pessoa que vive com HIV. Carne, de Camila Kater, conta histórias íntimas de cinco mulheres e de suas experiências em relação aos seus próprios corpos.
Obs-cu-ra é uma série concebida pelo fotógrafo Bruno Alencastro desde a janela do 4º andar do apartamento onde vive. De lá, seguiu para as residências de mais 80 fotógrafos(as) que aceitaram transformar suas casas em câmeras obscuras de grande formato e capturaram a vida em tempos de pandemia. Cada qual com a sua singularidade. Conquistas e perdas. Anseios e privilégios. Medos e esperanças. O resultado é um ensaio fotográfico caracterizado por uma atmosfera sombria e enigmática, tal como o indecifrável futuro que ninguém sabe ao certo como será.
Álbum de Estrelas, performance audiovisual de Débora Arruda, mostra o primeiro diálogo entre a artista e o pai, após o seu ‘encantamento’. Ela conta: “algumas semanas antes de gravar essa performance, sonhei com o meu pai cobrindo a janela do meu quarto com um manto roxo, fino, com vários buraquinhos. Nós, indígenas, nos guiamos pelos sonhos, pois é por meio deles que continuamos a conversar com nossos ancestrais”.
Memória e Herança é uma colagem digital, aliada às características fundamentais da collage, somada à insatisfação pessoal do autor, Rynnard Milton, pelo apagamento de sua genealogia e memória familiar – um fato recorrente na identidade negra brasileira. Por isso, através de um processo de análise e pesquisa de imagens negras, o artista reconstrói identidades a partir do resgate desses corpos tipificados pela sociedade branca do século XIX. A obra utiliza a colagem para criação de uma herança própria, reafirmando a ancestralidade negra no Brasil como espinha dorsal do país. Uma forma de existir com uma outra historiografia, com um novo olhar para o passado.
A Palavra Marciana Para o Mundo É Mãe é uma instalação da artista norte-americana Alice Bucknel que faz críticas às propostas arquitetônicas contemporâneas para a habitação de Marte. O trabalho explora três mundos marcianos com entendimentos muito diferentes sobre o futuro do Planeta Vermelho.
Os artistas participantes desta edição são:
- Alê Moreira de Paula (Mixando a transmasculinidade), Alexandre Pinheiro (Prêmio Nobel), Alice Bucknell (The Martian Word for World is Mother), Allan França Carmo (Nhn), Luz Negra (Retorno Constante), Andressa Núbia (Yalode), Antonella Mignome (Entelechia Obscura), Beatriz Da Matta (Cabeça, Tudo é ideia, Corpo objeto sonoro, Gráfica mente, In in ter ruptores, Violeque, Estado Virente, Folhas secas), Beverley (an exercise in solitude), Cris Papion, Elias Oyxabaten, Zahy Guajajara (Brasil NFT – Artes Originárias), Bruma M Machado (Em_fusão), Bruno Alencastro (Obs-cu-ra), Camila Ferreira Soares (ITAARA), Camila kater (Carne), Carlos Eduardo Guariglia (Centenário da Semana de Arte Moderna: As relações entre o ontem e o hoje), Cecillia Vilca (La Verdad), Charline Parisot, Jérémy Cissé, Fioretta Caterina Cosmidis, Flore Allier-Estrada, Maud Lemaître-Blanchart, Ludovic Abraham (Sans Gravité), Clélio de Paula (Gil Futurível), Débora Arruda (Álbum de Estrelas), Delírios Digitais (Séfora Rios, Yves Marotta, Paulo Stoker, Juliana Fasuolo), Diego Machado (Sylphides 3.1), Elvys Souza Chaves (Jardim Cibernético 00.02.222), Eric Dos Santos (Procedimentos de Captura), Felipe Carrelli (Estrelas do Deserto), Felix Blume (Dream'Cricket), Fernando Velásquez (Góngora), Filippo Edgardo Paolini (OTIS), Frank Ternier (Riot), Gabriel Junqueira (Archviz Habitat), Guillaumit (Livelyyy), Iah Bahia Bruno De Carvalho (Subterfúgio), Jack Holmer (Ocupação Situação Desejo), Jean Moraes Oliveira (Máquinas de Dizeres), Jéferson Ge Vasconcelos (Destino: Av. Brasil), Jéssica Gaspar (Cansei da Esperança), Job, Jors e Marieke (A Double Life), Jody Zellen (The Waking Dream) , Jonas Esteves (Máquina Sensível), Jorge Mendes (BioFuturism), Juan Calvet (Olhares), Juliana Fasuolo (WE R HERE), Katerina Belkin (Floating Away), Katerina Belkin (For all mankind), Larissa Lopes (Mãe), Luiza Lima Furtado (Urna Sonífera), Luka yakymchuk (Mono), Marco Antonio Gonçalves Junior (A Felicidade É Feita De Metal, HAPPINESS IS A MADE OF), Martin Smatana (The Kite), Matheus Roberto (Victor 3.0), Miguel Bandeira (MAR - LAGOA DO BOQUEIRÃO), Miguel Medeiros (Degustando o metaverso), Nicolas Melmann (ARMONÍAS DESIGUALES), Orquestra Filarmônica de Goiás (Canticum Digitale), Pedro de Fillippis (Garoto Transcodificado), Pedro Henrique (Armário), Rodrigo Faustini (Estamos todos aqui), Rynnard Milton Alves Dias (Memória e Herança), Sandra Lapage (Carapaça), Tiago Minamisawa, Bruno H Castro e Guto BR (Sangro), Scenocosme (Distances), Soliman Lopez (OLEA), Thiago (Runas), Thiago Gomes (Dança e Imagem Sonora), Thiago Hersan (Infinitum), Zaika Dos Santos (Sesa Wo Suban).
O TEMA:: Condições de Existência
Em seu texto de apresentação da Bienal de Arte Digital, Tadeus Mucelli, curador artístico e criador do Festival de Arte Digital, explica: “uma bienal é como um livro que, através de capítulos, tentamos dar voz a narrativas e visões, formas de 'ser' e 'ver' no mundo com as coisas sencientes. E quando dizemos "coisas" estamos incluindo uma ontologia digital (da vida) em interseção ou sobreposição a ontologia humana (de estar no mundo). Onde formas, processos e modos de existir convivem quase que onipresente com o que entendemos por 'sersientes', numa aproximação além de biorgânica e biotecnológica. Um olhar mais holístico que considera as terceiras partes (algoritmos, computação inteligente, formas digitais de 'vida') muito presentes em nosso cotidiano.
Se tratamos das “Linguagens Híbridas” como a impossível separação entre arte, ciência e tecnologia, produtoras de ferramentas capazes de produzir novas realidades, novas experiências de vida, em CONDIÇÕES DE EXISTÊNCIA buscamos compreender, pensar e propor as formas de COEXISTÊNCIA.
Como coexistir, 'viver, 'ser ' na dimensão de um mundo biotecnológico e pós-digital?
O questionamento é abrangente quando se dá conta de que existência se dá sob perspectivas distintas e múltiplas. Os olhares sobre o 'como existir' e suas 'condições' são de uma forma um infinito exercício da própria maneira de perceber e viver o mundo. Um olhar em direção a coexistência.
Existir, coexistir. Condições de existência.
Quais são as formas de existência possíveis em nosso presente?
Quais as condições humanas frente ao mundo técnico e digital?
O quão estamos inseridos para uma ontologia digital da vida que redireciona o sentido humano de ser e viver?
No avanço das sociedades biotecnológicas e digitais onde coexistimos?
Arte, ciência e tecnologia são campos ricos do conhecimento e da produção humana. Sobretudo, são lugares de nossa existência e produzem formas e sentidos de viver. Somos imensamente diversos se considerarmos que as condições de existência se escaldam desde a geografia, política, economia, culturas e costumes, mentalidades.
Mas na aproximação de um mundo habitado por dados, informação, inteligência artificial, máquinas inteligentes e relações biocíbridas estamos em uma rede muito mais complexa do 'estar no mundo'. As humanidades digitais, como campo de estudo, vêm tentando mitigar os efeitos disso e potencializar nossa forma de lidar com formas de existir e operar no digital, por exemplo.
BIENAL DE ARTE DIGITAL:
Realizada em 2018 no Rio e em Belo Horizonte com um público de mais de 70 mil pessoas, a Bienal de Arte Digital foi promovida pelo FAD, com patrocínio da Oi e apoio cultural do Oi Futuro. A programação contou com artistas do Brasil, Chile, China, Espanha, Estados Unidos, Itália, México e Reino Unido, apresentando exposições, performances e simpósios com o tema “Linguagens Híbridas”. A proposta da Bienal é se tornar uma agenda nacional de arte digital e mostrar a cada dois anos obras e exposições que reflitam temas sociais importantes, evidenciando que a arte possibilita à tecnologia exibir suas experiências sociais.
Oi FUTURO:
O Oi Futuro, instituto de inovação e criatividade da Oi, atua como um laboratório para cocriação de projetos transformadores nas áreas de Educação e Cultura. Por meio de iniciativas e parcerias em todo o Brasil, estimulamos o potencial dos indivíduos e das redes para a construção de um presente com mais inclusão e diversidade. Há 17 anos, o Oi Futuro mantém um centro cultural no Rio de Janeiro, com uma programação que valoriza a convergência entre arte contemporânea e tecnologia. O espaço também abriga o Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades, com acervo de mais 130 mil peças. Há 18 anos o Oi Futuro gerencia o Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados, que seleciona projetos em todas as regiões do país por meio de edital público. Desde 2003, foram mais de 2.500 projetos culturais apoiados pelo Oi Futuro, que beneficiaram milhões de espectadores.
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