Morte ou Pausa na produção? Uma das imagens identitárias mais forte da nossa “carioquidade” é o biscoito de polvilho vendido nas praias do Rio de Janeiro junto com seu parceiro, o Mate. Este estilo de vida típico, meio despojado, se tornou uma marca, uma espécie de “jeito de ser carioca” como bem interpretou o antropólogo Fabiano Gontijo. Para o pesquisador esta identidade toma dimensões de representação nacional, uma forma ou maneira de ser carioca, ou como ele mesmo chama, expressam “carioquices” do ser e estar no Rio de Janeiro. O biscoito Globo faz parte da composição de um conjunto de elementos materiais que compõe um consumo de experiência. O ato de comprar e saber que vai encontrá-lo naquele local, nos remete a um espaço de acolhimento, que nos traz sensações, seja no paladar, na textura ou no toque.
O que quero dizer é que cada um de nós RITUALIZA o consumo de lugares, pessoas e experiências com elementos que representam o “estar lá”. Como ir ao Rock in Rio e não fazer foto com a roda gigante ao fundo? Como ir à praia carioca e não tomar mate e comer o Globo? O biscoito Globo vai deixar saudade para muita gente, cariocas ou não, porque está presente em mais de 65 anos na vida das pessoas, em momentos de felicidade entre amigos e famílias, criando uma tradição passada de avós para pais e filhos por décadas. Aquela rosca de polvilho era a prova de que estávamos no Rio, na praia, nos divertindo, criando momentos de pura alegria. Era para ser compartilhado, fotografado, consumido sem medo de sujar ou de produzir farelos. Era vendido pelo moço da praia, a gente gritava e ele vinha correndo, tinha estratégia de promoção 2 por 1.
Comíamos sem medo de engordar, e olha que mal sabemos a sua procedência. Junto ao mate com limão era a dobradinha perfeita de um dia ensolarado, que mal haveria? O Globo ficará está no coração de muita gente, e será no mínimo estranho não ter o biscoito por perto na próxima ida à praia. Espero que tenhamos uma mera pausa na produção. Bem, prefiro deixar um até breve ao Biscoito Globo, tá bem difícil dizer adeus a um ícone carioca, quiça nacional.
Photo Messias Martins
Beauty Celly Almeida
Model Rafaela Blatt